Professor de Saúde Pública do UniCuritiba explica os sintomas, as formas de transmissão e alerta: fake news e movimentos antivacina atrapalham as estratégias de contingência e prevenção da doença
Declarada pela Organização Mundial da Saúde como emergência global de saúde pública, a varíola do macaco – ou monkeypox – avança pelo Brasil, inclusive com um óbito já confirmado. De acordo com o Ministério da Saúde, o país tem mais de 810 casos confirmados da doença, sendo 21 deles no Paraná – a primeira confirmação no estado ocorreu no início de julho. A situação no país, na avaliação da OMS, é “muito preocupante”.
Professor de Saúde Pública do UniCuritiba – instituição que faz parte da Ânima Educação, Fernando Staude Kloster explica que qualquer movimentação anormal no número de casos de uma doença deixa as autoridades sanitárias em alerta. O objetivo é evitar que equívocos cometidos no passado se repitam, como a crença de que algumas doenças não se disseminariam facilmente.
Apesar do nível de atenção, o mestre em Ciências Veterinárias recomenda uma análise atenta dos dados epidemiológicos para evitar pânico na população. “No dia da declaração da OMS, os dados oficiais eram de 16 mil casos em 75 países com cinco mortes. Isso resulta em uma taxa de letalidade de aproximadamente 0,03% ou três mortes a cada 10.000 infectados. Com esses números, ainda podemos dizer que o monkeypox não é tão letal quanto o SARS-Cov-2”, avalia.
Ainda assim, continua o especialista, não se pode subestimar um agente infeccioso sem observações e estudos. Segundo a OMS, o primeiro caso da doença foi relatado em 1970 e a proporção de pacientes mortos variou entre zero e 11%, com maior gravidade entre crianças.
A variação ocorre porque, até o momento, foram identificadas duas linhagens do monkeypox: uma da África Ocidental, com letalidade de 3,6%, e outra na Bacia do Congo, com índice de morte em 10,6%. “Enquanto os dados não são conclusivos sobre o avanço da doença no mundo, a recomendação é manter a atenção”, orienta Fernando.
Doença negligenciada
O monkeypox não é o mesmo vírus causador da varíola humana, o smallpox. O professor do UniCuritiba explica que essa última doença, felizmente, já está erradicada. Mas, então, como surgiu esse novo tipo de varíola?
Mestre em Ciências Veterinárias, Fernando Kloster lembra que o avanço das cidades e das populações em direção às florestas faz com que algumas doenças do meio silvestre circulem entre humanos. “A questão é que quando a doença é endêmica em países em desenvolvimento, a preocupação parece menor. Quando se dissemina na Europa ou entre populações com maior poder aquisitivo, entra-se em alerta. O que é um grande equívoco.”
Para o professor, o monkeypox foi uma doença negligenciada até o momento, já que estava presente apenas em países da África. “A preocupação só aumentou quando casos positivos surgiram nos Estados Unidos e na Europa.”
Combate à desinformação
Semelhante a outras doenças virais, o monkeypox requer estratégias para impedir sua disseminação e Fernando Staude Kloster faz um alerta: é fundamental combater a desinformação.
“Em primeiro lugar, os macacos não são os culpados pela doença e sim vítimas, como nós. É por isso que as autoridades vêm usando o termo monkeypox e não varíola dos macacos para se referir à doença”, avisa.
A intenção é evitar que atrocidades sejam cometidas contra esses animais, já que os reservatórios descritos do monkeypox são, principalmente, os roedores. O nome varíola dos macacos surgiu por causa da primeira identificação da doença em primatas de um centro de pesquisa em 1958.
Outro ponto essencial é o combate à desinformação. “Os movimentos antivacina, fake news e teorias conspiratórias prejudicam os planos de contingência e prevenção de doenças. A própria varíola humana só foi erradicada com o auxílio da vacina em uma época que sequer existia um medicamento antiviral para a doença”, conta o professor de Saúde Pública.
O sarampo é um exemplo de enfermidade que voltou a ser registrada no Brasil. Segundo dados do Unicef, três em cada dez crianças brasileiras não têm as vacinas necessárias e a meta de vacinação contra o sarampo está muito abaixo da expectativa, com apenas 47,08% das crianças imunizadas – a meta era 95%.
Sintomas e cuidados
Os cuidados para evitar a transmissão do monkeypox passam pela higienização das mãos com água e sabão ou álcool 70%, uso de máscara para evitar a contaminação por aerossóis e distanciamento social - medidas já adotadas na pandemia de Covid-19.
Pacientes com suspeita de monkeypox devem ficar isolados. Como a transmissão ocorre também pelo contato com as lesões, estabelecimentos de interesse em saúde, inclusive barbearias e salões de beleza, devem estar atentos.
Os sintomas da varíola do macaco costumam durar de duas a quatro semanas e incluem febre, dor de cabeça, aumento dos gânglios linfáticos, dores musculares, cansaço e lesões cutâneas.
De acordo com o Ministério da Saúde, pessoas com início súbito de febre, aumento dos linfonodos e erupções na pele devem procurar um serviço de saúde. Não há tratamento específico para a doença, apenas medicamentos para o alívio dos sintomas.
Além disso, indivíduos suspeitos precisam evitar o contato com outras pessoas e o compartilhamento de talheres, toalhas, louças, panos de prato e roupa de cama, por exemplo. Crianças, idosos e pessoas com baixa imunidade são suscetíveis a quadros mais graves da doença.
No Brasil, o Ministério da Saúde articula a compra de vacinas e a OMS tem feito negociações de forma global com o fabricante para agilizar o acesso ao imunizante nos países com casos confirmados. A estratégia inicial é imunizar pessoas que tiveram contato com casos suspeitos e profissionais de saúde com alto risco de exposição ao vírus.
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"Varíola do macaco": principal problema é a desinformação
PorMarlise Groth
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